terça-feira, 1 de julho de 2014

Migração

Estavam ao meu lado livros sobrepostos, formando uma torre que chegava à linha dos meus olhos, que estavam prontos para serem estudados. Mas a minha cabeça não conseguia fazer nada mais além de ficar pendurada no buraco vazio que manchava o meu coração.
Retrocedi de novo para o mês de Setembro. Estava a encaminhar-me para a cozinha para encher a minha pança quando ouço os meus pais a terem uma conversa que me deixou intrigada.
Recentemente, começou a haver ensaios de dança para pais na associação em que ando. A minha mãe já se tinha proposto a experimentar e estava precisamente agora a convidar o meu pai a juntar-se a ela. Ele logo recusou, justificando-se que não podia pois na segunda feira já ia. Tudo já estava tratado.
Não sabia ao certo de que falava, mas fazia ideia do que seria e preparava-me para o pior. Perdi logo o apetite.
Aos poucos, a imagem tornou-se mais nítida na minha mente, depois de juntar peça a peça tudo o que ouvira, mas o puzzle continuava incompleto.
No dia posterior a esse, o meu pai lançou-me perguntas duvidosas, acrescentando lenha ao fogo. Ele queria saber como fazer uma chamada de vídeo e se era possível fazê-la em toda a parte do mundo.
Comecei a ficar inquieta, quando na minha cabeça se formou a palavra que respondia à minha dúvida. Temia essa realidade, e confrontei a minha irmã que até lá não se tinha apercebido de nada.
Quando faltavam apenas dois dias para a intrigante segunda feira, o meu pai chamou-nos e começou com o discurso que, com o decorrer do tempo, se tornava cada vez mais negro. O horror era tal que parecia que até o céu afetava pois este se tornava escuro chamando pela tempestade que vinha furiosa.
Eu estava certa. O dia pelo qual lutava tanto para não chegar, por fim começava. O papá andorinha elevou-se no ar, despedindo dos seus entes carinhos com ternura no olhar, juntando-se a outros milhares que já tinham dado os primeiros bater de asas em direção a um rumo de esperança de uma melhor vida.

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