segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

6º Capítulo – Outros Homens disseram que viram anjos. Eu vi-te a ti, e isso é suficiente (Fevereiro, 2013)

Apesar de o Inverno estar a acabar, o tempo parece não mudar. Enquanto esperava ansiosamente pela promissora noite que tinha pela frente, observava as lágrimas cristalinas que embatiam graciosamente contra o vidro translúcido das janelas. Era um espetáculo tranquilo e bastante confortante, a solução ideal para acalmar os meus anseios que já percorriam por todo o meu corpo.
Fui mais longe com os meus pensamentos. Reparei nas tolices que nós, Humanos, fazemos com o mundo. A natureza é sem dúvida a sua maior maravilha e nós estamos a matá-la. Não imaginaria viver sem estes pequenos momento de transpiração emocional, em reciprocidade com o cair das gotas de água, de momento já ácidas, do céu. Ou então mesmo, após uma tempestade a descoberta de um arco-íris nos meus lábios tão colorido como o do espetro da luz solar. O que serei eu sem a Natureza?
O toque alarmante da campainha despertou-me do meu transe, larguei o olhar pendurado na janela e coloquei-o ao longo da porta. Suspirei. Chegara o momento. Peguei no casaco assentando-o sobre os meus ombros e abri a porta.
Lá estava ele, com um sorriso largo e irremediavelmente contagioso nos lábios enquanto sacudia as gotas penduradas na sua roupa e cabelo, com um charme que me ia queimando por dentro. A natureza faz mesmo maravilhas! Retribui o sorriso e olhei-o nos seus olhos cor de esmeralda, fazendo dançar os nossos olhares numa balada, até que ele me agraciou com um cumprimentou.
-Tu... Tu estás linda!
-Tu também não ficas nada atrás. – sussurrei-lhe ao ouvido, momentos antes de lhe tocar ao de leve com os meus lábios finos na sua pela macia.
Podia apreciar o seu perfume doce, um incenso que reconheço ser único e intenso. Ele nem imaginava o quanto maravilhoso o achava, eu sabia-o desde a primeira vez que o vira a sair pela porta de desembarque no aeroporto.
O toque delicado da usa mão direita nas minhas costas dei-me permissão para finalmente entrar no carro, interrompeu-me do gira-discos de memórias que arrastavam pela minha cabeça.
A viagem até ao local onde aconteceria a nossa primeira saída juntos, só nós dois, fora muito silenciosa e talvez um pouco embaraçosa. Desviei todos esses pensamentos malucos e comtemplei a paisagem. Verifiquei que começávamos a atravessar uma rua que não reconhecia, caminhamos ao longo de um mato, por entre coníferas. Se escutássemos com atenção, conseguia-se ouvir o cacarejar de uma coruja juntamente com a melodia que dos grilos. Até que carro pára. Não conhecia aquele lugar. Estávamos no meio do nada, além de plantas a única coisa que se via era uma casa que parecia já velha e desgastada. Era feita em pedra, cor negra e as janelas algumas já decaídas eram pelo contrário muito brancas, reparei na chaminé e estranhamente estava a fumegar. Alguém estava dentro daquela casa. Mas o que afinal estávamos aqui a fazer?
- Chegamos, querida. – Disse-me carinhosamente, pausando a sua mão sobre a minha afastando, assim, aos poucos os meus receios.
Dirigimo-nos rapidamente, ainda de mãos atadas, até à casa fantasma. A minha mão estava prestes a tocar no puxador da porta até que alguém antecipa-se e abre-a. Não podia acreditar no que via. Estava eu mesmo no equador, no sul a casa parecia assustador porém a norte via-se uma mudança radical. Havia um estupendo contraste. Entrei. Sentia-me como se tivesse a caminhar sobre o mar, e os meus pés tocavam suavemente nas suas águas cristalinas, como se o meu corpo coberto de ouro andasse e o perfume de orquídeas eu cheirasse. Como se estivesse dentro de um castelo, mas moderno, muito moderno. Estava boquiaberta. Como ele conhecera este lugar encantado, pergunto-me.
- Talvez eu tenha exagerado, desculpa. Mas eu queria que fosse algo especial e único. Queria tentar surpreender-te. E bem, como não estou cá tempo suficiente para conhecer este local, então pedi ajuda. Procurava algo sossegado e privado. E disseram-me que aqui não me ia arrepender… - ele tinha lido o meu pensamento, respondendo à minha grande íntegra, e interrompi a suas explicações sem nexo, apaziguando-o.
- Está perfeito. Não tens com que te preocupar. Independentemente para onde me trouxesses, seria especial. O que importa é a intensão. Não é verdade? – abracei-o.
- Não achas exagerado? – devolveu-me a pergunta.
- Não podia estar melhor!
Posto isto, fui levada para a sala de estar. Sentamo-nos defronte para uma mesa com uma tolha branca com bordados vermelhos, a loiça era requintada, e a ementa ainda desconhecida. Suava ao fundo música suave, produzida por um piano.
- Tive uma ideia – uma voz entusiasmada surgiu quebrando o ambiente – e se antes de jantarmos, dessemos uns passos de dança?

- O que queres dizer com isso?
-Tu percebeste bem. – afirmou.
- Agora, para além de saberes cantar magnificamente, não me digas também sabes dançar. – desafiei-o.
- Faço o meu melhor, basicamente. – sorriu – Então, aceitas dançar comigo, princesa?
- Se prometeres não calcares os meus pezinhos… - continuei com a provocação, mas ele fazia questão de não apanhar a isca. Ou simplesmente estava a fazer de prepósito, queria me ver roer por dentro.
- Como queira, menina.
Pegou gentilmente na minha mão fazendo-me levantar da cadeira, colocou a sua mão direita com cuidado sobre as minhas costas e eu a minha nos seus ombros e encaixamos as restantes. Os nossos pés moviam ritmicamente com a música. Ele realmente sabia o que estava a fazer, mas eu nem pensei muito nisso, estava completamente distraída nos seus olhos e pela segunda vez num só dia mergulhei neles. O tempo parecia avançar em slow motion, não sabia exatamente em que pensar ou fazer. Por isso apenas pensava nele e deixava que fosse ele a comandar o momento. Aos poucos os nossos corpos vão se aproximando, e começo ouvir a som apaixonante do seu respirar. Até finalmente ficarmos de tal maneira colados que o espaço entre os nossos lábios era quase nulo. A batida do meu coração tornou-se de tal forma intensa, que eu pensava que ia morrer ali, mesmo antes do tão esperado momento.
- O jantar está pronto senhor.
Bem, o tão esperado momento que ia ficar para mais tarde, talvez!
Recompusemo-nos e voltamos a sentarmo-nos. O empregado pousou a nossa refeição, que ainda estava coberta com uma tampa, na mesa. Não podia mais e perguntei-lhe:
- O que pediste para o jantar?
- Deixa de ser curiosa, fofa. – respondeu-me, mas deixou-me ainda mais curiosa. – É algo que te vai agradar, fica sossegada.
Ele pegou no champanhe  que se encontrava numa mesa ao lado dele, abriu-o e colocou um pouco em cada um dos nossos copos. E eu agradeci-lhe pelo cavalheirismo.
- A que brindamos? – perguntou, levantado o copo ligeiramente.
- A ti? A mim? – opinei.
- A nós! – afirmou ele, tocando ao de leve no meu copo formando um som tilintante que ecoou pela casa.
Levamos os copos à boca, molhando apenas os lábios.
Ele deu ordem ao empregado para servir, e vi aparecer aos poucos o meu prato predileto. Mais uma vez estava admirada. Como ele sabia tanto a meu respeito, se ele nem me conhecia a tanto tempo assim?
- Como sabias? – perguntei com os meus olhos cintilantes e o meu sorriso longamente descoberto.
- Eu cá tenho as minhas fontes. – gargalhou. – Mas há coisas que gostava que fosses tu mesma a contar… Como te tornaste na mulher mais maravilhosa do mundo, na verdade.
- Por exemplo… - corei.
- Dançarina. Porquê dançarina?
- É uma longa história.
- Tenho a noite toda, para a ouvir. – Falou cobrindo a minha mão com a sua.
Apertei-a e abri o meu coração, e comecei a contar como tudo começou.

Quem será o rapaz misterioso pelo qual Lia parece se ter apaixonado? 
O que acharam? Gostaram? Opiniões? Espero que tenham tido uma leitura deliciosa. (;


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