quinta-feira, 27 de junho de 2013

8º Capitulo – Peste negra (Maio, 2011)

Cambaleei ensonada em direção à casa de banho até que estacionei especada inspecionando-me ao espelho. Tentei segurar o meu corpo trémulo que estava prestes a desfalecer. Voltei para o meu rosto. Os meus lábios rosados agora viam-se cor de vinho tinto, a pele seca e enrugada, mas o que mais me chamou a atenção foi as janelas para a minha alma, vermelhas e sangrentas, as olheiras de uma noite em lágrimas em monte percorriam as janelas pesadamente com a intensão de não as largar tão cedo. Eu tanto queria chorar, mas as lágrimas caiam secas e vazias.
O medo atraía-me para dentro de casa, mas segui o meu dever perante a sociedade, deixando, como sempre, a razão de vida para trás. A racionalidade venceu mais uma batalha contra a animalidade, ficando de pé vitoriosa com o mastro de “vontade superior” seguro na mão.
Caí no esquecimento...
Desta, estava encostada à parede chegada à porta da sala, onde dali a minutos ia ter uma aula, involuntariamente à espera, receosa pela chegada da sombra negra que me iria acompanhar o resto do dia.
Enquanto me encontrava embalada nos meus famosos pensamentos, não me apercebi da aproximação da presença que eu rezara tanto que não chegasse. Logo, flechas de fogo se lançaram e alcançaram o meu corpo já ferido e fraco, incapaz de aguentar com tamanha brutalidade e consequentemente rios escorreram-me pela face. Aquelas palavras, cavaleiros do mal continuavam a atacar-me sem cessar, na expectativa que eu caísse aos seus pés arrasada. Permaneci, a qualquer custo, mais ou menos sólida. Fui salva por uma figura robusta que nos deu ordem para entrar na sala. Íamos realizar uns trabalhos de grupo sobre um tema previamente escolhido. Reparei que estava a ser observada e ouvia muitos risinhos proveniente de um dos grupos que se dirigiam a mim e abriam feriadas na pele como farpas. Os risos ganham volume sempre que passava pela fonte. Sentia-me desconfortável e voltei para o meu mundo, não prestando grande atenção ao decorrer da aula.  

Quando finalmente estava em casa, longe de todos os demónios em exceção, claro do meu próprio demónio, refugiei-me na internet. Coloquei a minha passe e… O quê? Não entrou? Tentei novamente. Palavra-passe incorreta! Não intendo! Bem, não interessa, trato disto mais tarde. 
Transbordei todas as minhas emoções sobre as palavras musicais que apareciam no livro “Metamorfose” e levei à boca um pouco de chocolate branco. Fiquei envolvida na leitura até que uma voz chama-me de volta à realidade.
- Já foste à tua página, hoje, mana?
- Não, não consegui ter acesso. Porque perguntas?
- Vêm cá ver isto! – Gritou do seu quarto, para onde logo me dirigi.
O meu coração simplesmente parou e caí de joelhos no chão, acompanhada com lágrimas tão impuras de cor semelhante à noite. Sentia-me um inseto muito ferido e isolado, a morrer sem gerar compadecimentos profundos na casa.
Eles invadiram o meu mundo e humilharam-me, acertaram-me com palavras pedregulhos de tão rudes, que desta vez não as ouvi mas as li e ali estava, para todos verem o inseto que sou.
Afastei-me e encarei de novo o espelho. Via-me rodeada de uma teia escura, pegajosa que não conseguia remover, no meu corpo manchas negras, esta peste negra que crescia aos poucos, determina o meu caminho para a mais frias das mortes.

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